5.12.12

Buscar a solidão, um inferno

subterrâneo

onde o pecado não é culpa,
onde o vento triste é
teu amigo;

levar o dia ao EXTREMO,
respirar nos pulmões
sem medo do cheiro
sem medo do cheio
enchê-lo de mundo,
subir no mundo pelas narinas.

Ferir os outros,
amar com violência,
no escuro

[o subúrbio do mundo]

Ter filhos e os abandonar à fome

colher o próprio alimento, colher
os próprios filhos na fome

e deliciar-se, mesmo que cheire a merda,
mesmo que a merda cheire
mesmo que a merda seja
mesmo que a merda beije
mesmo que o mundo ferva.

Num mundo de merda que
você controla, até você é merda.

Até a sua mão é merda.

Rir de si mesmo?

esperar por algo que nunca vem
o isto
o eu
o agora
o aí.

O mundo pode ser morto
mas não pode morrer.
Nós é que não podemos matá-lo.
Só podemos matar-nos.

Não quero voltar à infância.
Fugirei - Fugirei... Para onde?

Morrer!
Morrer!
Quem teria um sonho tão pérfido e belo?
Por que unir, o que Deus separou?

Porque a solidão é um crime, se Deus
nos olha do céu, solitário,
inalcançável?

O refúgio do mundo é a madrugada
Fechar os olhos é olhar além.
Se não houvesse a noite, não saberíamos
da existência das estrelas; se não houvesse
a noite, o homem não teria voado,
com medo de ficar preso no teto azul do universo.

Ausência de luz é liberdade.
Morrer é um sonho bom.

10.9.12

Ah, nasceu o dia e eu aqui, de manhã, ouvindo os sons da rua em seu estranho e calmo sussurro. O mundo é azul, o mundo é roxo é vermelho como sopa de tomate, o céu laranja ilumina a manhã, o sol laranja como uma gema semicozida ou o olho solitário de Deus.

Quem diria, nós aqui e amanhã é preciso viajar, correr pelos campos com as mãos abertas e dizer "MAS QUANDO IREI VER DEUS NO FUNDO DOS OLHOS DE DEUS?". O vento é brisa enfurecida, as árvores beijam o vento, quem sou eu por detrás do mundo? As paredes do meu quarto, são altos os muros do pensamento, mas no mundo há muitas vozes (no sussuro dos prédios, nos cartazes da rua, na lua, no canto do bar onde aquele velho se esconde de mim e eu o deixo fugir).

Cheiro, o nariz é o bueiro do mundo, o fosso, o seu e o meu nojo, o resto de alimento a te apodrecer no meio de teus dentes.

Quantas coisas há a mais do que eu penso haver, quantos Deuses se escondem dentro de um único Deus, quantos segundos há no mundo, se para cada Ser o uno é infinito; quantos dias há mais por viver em cada um? O universo é inquantificável, eu me ajoelho diante de tudo o que é sagrado, eu me curvo perante o mundo sem números, deixe que ele te inunde as entranhas e escorra pelo seu cu, deixe que teu sangue fervilhe e teu rim o filtre, deixe que suas sombras te cubram debaixo das árvores mais altas, deixe que a tua sombra corra para bem longe do teu pé... que o mundo é tudo que você toca, e querer menos já é morrer.
Oh! wowooooooowwwww
e o ritmo de seu coração é
dança
é corpo
é fogo é
a morte sussurando em bim bam bum tchá!

Teu pescoço é o pillar do coração
que se quebra e pá, pum pêi!

Toca o coração do céu!
Toca o coração do teu coração!
Pra dentro, ao fundo, no meu, no seu RÁ-TÀ-TU

Quem sabe os deuses não te cantam.
Quem sabe você não se torna um Deus
e amanhã, quando o sol se pôr
teus ouvidos se abrirão, para algo maior que a morte

BEM BEM BEM maior que a morte!
BEM maior que o mundo
BEM maior que o céu
BEM maior que o sorriso de teu pai, esperando que retorne para a casa.

Escuta Escuta,
nada nada nada
sobra de teu corpo sórdido.

A morte é batida em teus ossos
são os ossos roendo-se em teus nervos
quem sabe lá, um dia, você veja
quem sabe depois da morte,
onde nada há
quando nada há
quem nada há
porque nada nada nada há!

Talvez não hoje, talvez não agora
mas amanhã te verei-ei-ei,
no escuro da noite
no fervilhar da noite
no sol escondido em teu corpo
no rio escondido em teu corpo
no corpo escondido em teu corpo

por onde mais, hey, por onde mais
caminharemos, companheiro?

por onde mais veremos o sol
do teu coração
pulsar no azul do céu que é o homem?

27.8.12

como um sonho, ou uma febre

E as luzes do mundo,
alcançam o longe
de teus sonhos?

Quem pode dizer
aonde vai, em dias
que ficar
é uma espécie de viagem?

Tenho olhos noturnos,
como os de um gato,
mas a luz que os toca
é negra como o pensamento de um cego.

Ver não é suficiente. É preciso
tatear a luz. É preciso tocar
o fogo. É preciso engolir
o mundo. É preciso
consumir-se.

O suor de seus olhos,
de onde brota?

É dia ainda, aqui, onde
a sombra é silêncio.




Sente este calor na pele chamado mundo?
Talvez o sonho seja um dia a arder em febre.
REINE

REINE

REINE

sobre os mares de meus dedos
sobre os corredores estreitos do mundo
sobre os Deuses
e os mortos
sobre a solidão noturna

REINE

sobre a divisa
do SOL
sua linha invisível
e gentil

REINE

com correntes de ferro
e o sério sério olhar paternal
sobre meus olhos cansados
sobre o sangue
de meu pai
suas costas de metal
seu sono de vértebras trincadas

REINE

em silêncio, como Deus
aos berros, como um Deus
com o sol te cegando os olhos

LANÇA-TE AO INFINITO
E REINE, REINE,
REINE SOBRE MIM,
SOBRE O PICO DO MUNDO
NO ABISMO DO SER
AO ALTO, AO ALTO,
NO FUNDO FUNDO
DO CÉU

REINE REINE, reine sobre mim

9.4.12

Por que tremem teus olhos
sob as
sombras dos teus olhos?

Sombras
no ar,
na fauna do teu coração,
na flora de teu sangue,
em torno de teu rosto
inclinado
sob o silêncio
lunar.

Eu, o monstro, com
a mão pesada
e o sangue quente nos olhos

te olho
ao longe,
(longe)
ao
toque da
mão

o retorno ou a ida?

leve,
o passo leve,
a mão leve,
o toque leve
se arrasta nas
brancas paredes
de teu lar;

desabrigada
,dentre as sombras de tua casa,
você esvanece
e retorna
ao pai.

13.10.11

Ler com urgência

seus olhos são mais rápidos
que o cérebro
seu coração é mais rápido
que o cérebro
o mundo é mais rápido
que o cérebro
a vida é mais rápida
que o cérebro

A morte espera que você pense no amanhã?
A morte espera que os parênteses revelem segredos?
A morte espera ser engolida pelo bacharel ensimesmado?
A morte espera a lenta ruminação das tias velhas, vacas gordas que engolem e regurgitam e engolem e regurtigam e se entopem de palavras e cagam andando sobre o pasto de livros que comem?

A vida espera a tua felicidade?

Ler com urgência,
viver com urgência;

[para que encontrar o mistério do poema,
se o poema é o mundo,
e no mundo já há tantos mistérios?]

Ler com urgência;
ter pés;
amar a terra;
saber morrer;
amor fati.

Não há segredo por trás destas palavras.
Não há inteligência por trás destas palavras.
Não há um homem por trás destas palavras.
Não há por trás das palavras.

O que há é um autor,
que é Deus,
que é Mundo,
que é mistério,
e que nenhum de vocês
,com seu desprezo por Deus,
,com seu desprezo pelo Mundo,
terá a liberdade de mudá-lo.

28.9.11

Em meus dedos o mundo
debaixo de minhas unhas,
o mundo.

Que dor pulsa entre a carne
e a unha
que dor fulgura em teu
crânio denso
cheio de esquecimento
pairando na bolha
de éter e morte
que é o real.

Com que violência teus
dedos se cravam à
terra, com que força
oculta teus olhos te fincam na existência

com que olhos é preciso ver
com que ouvidos é preciso ver
com que língua é preciso
sentir - do outro lado
ao vazio QUEM QUER QUE SEJA
COM A MORTE ENTRE OS DENTES

.........
pode você
almoçar o mundo
e amá-lo
ao mesmo
tempo?
........


TENHO SONO
QUERO ÁGUA
o CORPO é o filho que te abraça

A madrugada amiga
seu céu de estrelas
escondido por trás das nuvens

ESCURIDÃO




A palavra é luz em meio ao vazio
a palavra é estrela que te queima as bochechas
a palavra é fogo
buraco negro
o vazio feroz de laranja
o fim do dia vermelho
sete anos a mais e tudo isso será pó.



(beija-me-beija-me-beija
que de mim nada resta
senão o vazio
de quem tem a língua
mas quer calar-se)




Deus é intenso, um erro, um anjo mal
seu suspiro é o canto da sereia
a loucura que te toca co a ponta dos dedos
e arrasta as unhas
em sua nuca
te lambe a medula
te injeta o veneno
o fogo intenso
a morte esparsa
o silêncio na ponta
da lâmina
da lágrima


Não há fuga: o mundo é mundo, mesmo onde não é mundo, o mundo é mudo, mesmo onde é palavra, negatividade afirmada.

Todo NÃO é um SIM,
prelúdio da loucura,
eclipse dos deuses,
crepúsculo
aurora que aflora no sangue do espaço, nas vértebras do tempo.

(na madrugada procuro, por trás da loucura, detrás das luzes, obscuro como estrelas, palavra sem fundo, Deus, o inencontrável!)

8.9.11

A mão na garganta
por dentro dos nervos
por fora do tempo

TE CORTA E RODA E RODA

e leva a morte contigo
e teus pulmões inflados
e tuas mãos manchadas
de sangue
e terra
e trovão

Que as sombras sob teus pés
são rastros de morte

Que as sombras em teu corpo
cansado de solidão

Abre teu peito com a faca
quebra as costelas
e abafa em teu crânio
o pensamento

E MOVE A MANDÍBULA
E CORRE PRA LONGE
E CRAVA NO CHÃO
teu corpo
pesado.

E planta teus dentes na pedra
e a rega com o poema
e lambe o coração do vazio
e acorrenta teus pés
na cidade e grita teu nome
ao avesso
enquanto salta dos prédios mais altos

CORRE SOBRE AS NUVENS
E SE LANÇA AO CHÃO

que de nada servem asas
a quem não tem pés

19.8.11

Que a solidão me diga
onde ir, quem
liga
que a morte
venha, quando
os dias
passam e o rastro dos
mortos aflita-se em teu
peito.

Tenho preguiça
de pensar.

Tenho preguiça.

Mas o mundo em minhas mãos
tem formas que
desconheço.

Que me diz o pinheiro distante
que em sua firmeza
desafia o concreto
dos prédios mais altos?

Meu dedo cortado,
em frente à noite densa
ao uivo do gato
às garras caninas
ao lobo dos olhos
ao globo do mundo

SOU FUNDO
como um apocalipse
cuja promessa
é o amanhã.

SOU LUZ
que quando amanhece
esvanece sem vida.

SOU TUDO
que dança
na madrugada
e lhe desafia.



A solidão de Deus me olhando nos olhos.



Eu tenho a morte
como quem tem
um filho.

2.8.11

Deus é a palavra
que em sua tessitura
contempla toda a estranheza do mundo.

Deus é isso.

Onde se diz coisa, se diz Deus.
Onde se diz homen, se diz Deus.
Onde se diz nuvem, se diz Deus.
Onde os moinhos moem, se diz Deus.
Onde o poema nasce, se diz Deus.

Onde meus pés se cansam, se diz Deus.
Onde nadam os girinos, se diz Deus.
Onde seu pai te olha, se diz Deus.
Onde seu pai chora, se diz Deus.
Onde seu irmão te ignora, se diz Deus.
Onde a noite termina, se diz Deus.
Onde há sopa quente te esperando, se diz Deus.
Onde há o silêncio, se diz Deus.
Onde os gatos fogem, se diz Deus.
Onde não se diz nada, se diz Deus.

Deus é isso
Deus é aquilo.
Deus são as coisas.
Deus é linguagem.
Deus é o Ser das coisas em um mundo sem coisas e sem Ser.

Deus só não é o não-ser,
que ele é a prova
de que ele mesmo é Ser
em sua presença triste e incontestatável.

Porque haveria prova mais verdadeira e feliz de que Deus existe
do que olhar para fora da janela
e saber que ali onde não há nada, toda a solidão do mundo se esconde?
Um dia estarei morto.

Um dia estarei morto.



Um dia estarei morto.


Morto

Não é difícil de entender.

Um dia a morte vem

Um dia ela me pega.

Você vai morrer comigo




Um dia estarei morto.





A morte virá
e colocará seus pés sobre minha mesa de centro
e dirá com o dedo em minha cara:
"um dia eu tinha que chegar"

SEJA BEM VINDA
dorme aqui comigo,

abraça-me,

para onde vamos hoje

QUE LUGAR É A MORTE?




Um dia eu vou morrer.

Segura em minha mão, vem comigo,
quero viver contigo...
quero dizer o que nunca te disseram
quero comer teus dedos e chupar os ossinhos
quero voar sobre os prédios e escalar as escamas de concreto que os encarapaçam
quero ver as nuvens vermelhas na noite densa e úmida
quero ouvir o sussuro dos motores dos carros
seus fluidos queimando
o cheiro do CÉU
quero pôr minha língua nas nuvens,
quero fechar os olhos por uma noite sem pensar com imagens
quero me enfiar no cu de Deus e subir por suas entranhas
e agarrar seu coração


E COMO EU PODERIA NÃO TER MEDO DA MORTE?
E COMO EU PODERIA DIZER "ESTOU TRANQUILO!?"
E COMO NÃO OLHAR PARA FORA E SENTIR O VENTO BATENDO EM SUAS BOCHECHAS ROSADAS, INUNDANDO SEUS PULMÕES DE AR E SEU SANGUE DE FUNGOS SEM SE PERGUNTAR

ONDE VAMOS AMANHÃ?

Quantos dias mais, pai, você vai se perguntar
o que eu fiz
da minha vida?

Quantos dias mais, pai, você vai me perguntar
o que eu fiz
da minha vida?

Quantas vezes mais, pai, vou olhar nos teus olhos cheios de inocência
e dizer "não sei para onde ir?"

Quantos dias mais, pai, o sono vai bater em minha porta me lembrando que perco tempo com poemas noturnos, palavras negras, ESQUIZOVERBORRAGIAS?

E se eu mascasse Deus em minha boca?

E se eu mastigasse meus intestinos antes de sair?

E se eu me mudasse para bem longe, sem ter de acordar e ouvir as pessoas vivendo à minha volta?

Quantas vezes mais vou me sentir um fantasma
antes mesmo
da morte chegar?

Quantos dias santos perderei
antes que a vida
me profane com suas sombras?

25.6.11

Pouco me importa o futuro,
desde que eu não canse de persegui-lo.

Pouco me importa o que há para além da morte,
desde que eu a experimente uma vez.

Pouco me importa qual o peso da verdade,
desde que seja incalculável.

Pouco me importa a ignorância,
desde que haja a curiosidade.

Pouco me importa a memória,
desde que não me esqueça de esquecer.

Pouco me importam as fotografias,
desde que haja mais coisas lá fora.

Pouco me importa o amor,
desde que eu não o tenha nas mãos.

Pouco me importa a pobreza,
desde que eu tenha fome de tudo.

Pouco me importa a vida,
desde que eu esteja aqui.

Pouco me importa se há Deus,
desde que Ele se esconda de mim.


DEUS é o MUNDO, sua luz, seu mistério.

13.6.11

Mística

Sei que as coisas têm sangue escondido
por debaixo da secura dos olhos,

mas sei também que
os olhos sangram
quando a luz os
invade com sua
fúria cotidiana.

- a cor dos teus olhos é verde é negro é vermelho é verde-musgo azul safira cor-de-formiga-morta-no-pote-de-açúcar)


Estar cego é VER o que um cego vê,
ouvir o som de um surdo é ouvir a Terra com os olhos,
ter medo de viver é sentir a vida pelo avesso.


A Cegueira pariu um DEUS bom e justo escondido em suas entranhas.


Fechar os olhos para a verdade é ver onde ela não vê.

Eu vejo o mundo,
o toco com meus dedos,
sinto seu cheiro pérfido,
pouso minha língua sobre seus sulcos,
agarro-lhe com minhas garras de pantera.

(eu o aperto em minhas mãos,
dobro-lhe como um guardanapo de papel,
o moldo em desenhos poligonais,
faço um barco de sete lados, um gato que serpenteia, um avião que voa parado no ar,

falo palavras estranhas na beira da madrugada

(o abismo do tempo)
(seu silêncio ruidoso, seu grito desesperado)
(onde estou preso, como todo o resto dos homens livres)



A palavra é o mundo.


Um livro é um mundo,

duas palavras são um mundo,

uma sílaba tem um mundo,

o espaço branco entre as letras é um mundo,

um suspiro é um mundo,

o silêncio é o mundo,

a chuva de inverno é o mundo e sua tristeza mística,

EU QUERO QUE O MUNDO ME INUNDE AS ARTÉRIAS
EU QUERO UMA OVERDOSE DE MUNDO.





HÁ UM MUNDO ESCONDIDO
no avesso da ponta de tudo o que é fosco.

Nele eu sou Eu
Nele sou Outro.

28.4.11

Como ser um licantropho?

Quando a noite chega
(de onde ela
vem?, meus olhos
não a viram escapar por detrás
daquele fundo
de mundo chamado horizonte)
brilha a lua (a imensa
e noturna testa do céu):
é LUZ é VENTO é o CRÂNIO PULSANDO EM DORES ESTRANHAS.

De dentro de mim um
homem outro quer
nascer(talvez um
animal de garras e pêlos
com sangue negro
e um apego infinito a
Deus, talvez um monge
carregando seus livros pesados
à sepultura
de terra e alecrim) mas quem mesmo sou eu

-subterrâneo-

por debaixo de mim?

Uivo pela janela
o chá esfria
como um corpo de homem
que se lança à morte
(mas eu estou vivo,
posso me tocar, posso sentir
meu gosto no céu da
boca, ouvir meu coração
se o silêncio pairar
por um mínimo segundo),
e minha cabeça pesa
,cheia de história,
cheia de memória,
cheia de esquecimento.

(porque esquecer é lembrar de quem nós somos)

O peso do mundo é meu peso.

À noite sou o monstro preso
a uma torre
que chamo de casa - lá fora o mundo
se mostra o mesmo, me condena
à solidão.

Quando sonho,
tenho a vida nas mãos,
mas ela escapa entre
meus dedos de licantropho.

Não há espelho que reflita meu rosto.

O LOBO me olha no OLHO:
quantas noites mais
você
sobreviverá, raro espécime
de ser humano que
,por não saber seu nome,
lhe chamo
de EU?

12.1.11

E a morte é pesada,
como um sussuro, um passo em
falso, a madrugada,

é pesada como uma folha
de papel

é pesada como um homem
parado em frente ao
portão, debaixo da árvore
com sombrancelhas
grossas, esperando o sol deitar
para deitar com
ele em sua cama.

é pesada, maciça,
como o cheiro da hortelã,

é pesada, como um pássaro
que pousa
nos galhos de uma
goiabeira

é pesada como quem quer que seja
esperando a morte
com os olhos voltados a Deus

NÃO HÁ LEVEZA NA MORTE

ela explode em silêncio

(e que silêncio é pior
que o peso abafado
de uma pedra
feita de ossos
e carne?)
De volta à calma do mundo
onde meus pés se incham
e meu coração repousa,
esperando
a morte.

De volta a este chão,
a essa cadeira, de volta
ao centro da vida
onde me lembro
estar só.

De volta a mim
plantado na
terra
que me chama pelo nome
"não se vá".

Estou aqui
nem o vento me leva embora

Como ser um licantropho?

A lua sussurou em meu ouvido
"não morra"
e eu disse
"para que há anjos, senão para isso?"





O sono é Deus
tocando nossos olhos
por dentro
do globo.

15.10.10

Há três mil anos,
Deus apontou do céu seu dedo
enorme e ameaçador para
o Homem: "Seu
pequeno pedaço de merda
ande como um louco
para lá
e para cá
que a vida não é fácil EU te
dei o mundo porque
não quero passar
todos
os dias sozinho,
beije meus
pés, que minhas mãos
eu guardo para
masturbar minha
inteligência"

Hoje, a solidão de Deus é nossa
triste vingança; o
olhamos com nossos olhos
de Homem, lá longe,
se apagando como uma
estrela que no
exílio da noite
se afoga nas
sombras do universo.

E agora que Ele não está
aqui, agora que o
mundo se encolhe em nossas
mãos suadas de trabalho e utopia,
cremos na promessa de que
o Homem se faça Deus
por meio da arrogância
que Ele deixou para
trás antes
de partir: a nossa
fria, pobre
e inquestionável
Verdade.

no Mundo Prometido dos Homens
não há religião,
mas há ciência;
não há oração,
mas há literatura;
não há Verdade,
mas há Verdade,
(porque ter fé nela
é tê-la em Deus,
sem tê-Lo ao
seu lado)

Por isso hoje eu,
sozinho em minhas confissões,
isolado do mundo dos Homens,
busco Deus naquele lugar
onde Ele se perdeu, exilado,
nas profundezas
sombrias daquilo que
para os olhos abertos da Verdade se chama céu,
mas que
não tem
nome
para
meus
olhos
fechados.

25.9.10

Traços da América

a América,
quadrada no rosto de suas
mulheres, no queixo
de ferro de
Neal Cassady, em seus
olhos saltados
da face, na firme
solidez de
suas casas, na pobre
arquitetura de suas fortalezas,
na imensidão de um céu
onde o horizonte
desmente que a Terra
é uma laranja, nas
torres de concreto
que empalam
a madrugada,
nas luzes que contornam as janelas
e delas escapam,
a América-quadrada e
inacessível
onde meus sonhos
se despertam
para a
realidade
de
Deus;


Deus é o círculo
que a América não
pode tocar